sexta-feira, 6 de abril de 2012

Os primeiros palhaços negros do Brasil




      Você sabia que até cerca de 100 anos atrás, a arte circense não admitia palhaços negros? Sim, até no circo existia o preconceito. O primeiro palhaço negro de que se tem notícia é o Palhaço Benjamin, precursor da democratização e da luta contra o racismo nas artes cênicas brasileiras.

      O Palhaço Benjamim mantinha um circo e depois um pavilhão no início do século 20 no Campo de Santana, Rio de Janeiro, e era muito bem sucedido em suas apresentações.

      Ator, cantor, instrumentista e compositor, nasceu em Minas Gerais, em 1870, e faleceu no Rio de Janeiro, em 1954. Abandonou o lar ainda menor de idade e juntou-se à trupe do Circo Sotero, atuando em números de trapézio e de acrobacia. Estreou como palhaço no circo de Frutuoso Pereira, por volta de 1889.

      As primeiras apresentações foram vaiadas. Depois de trabalhar em vários circos, adquiriu experiência para atuar como palhaço do Circo Caçamba, então armado na Praça da República, São Paulo. Aí trabalhou aproximadamente três anos, e, em 1893, obteve o lugar de palhaço principal do Circo Spinelli, famoso na época, no qual encenou quadros cômicos extraídos de operetas e peças burlescas.

      Na Semana Santa, representou o papel de Cristo, com o rosto pintado de branco, uma vez que era negro. O sucesso dessa idéia de conjugar teatro com circo abriu caminho para a popularização de clássicos, como Otelo, de William Shakespeare (1564-1616), e A Viúva alegre, de Franz Lehár (1870-1948), em que reservava para si os principais papéis masculinos.

      Talvez, por ser negro e circense, poucos registros se fazem dele ainda hoje, porém, Benjamim abriu caminho para gerações de artistas negros honrarem o Brasil, como Grande Otelo, um de seus sucessores.

      Fotos de Benjamin: 


















      Mineiro de nascimento, a vida de Grande Otelo foi marcada por tragédias. Seu pai morreu esfaqueado e sua mãe era uma cozinheira que não largava a bebida. Sebastião fugiu com uma Companhia de teatro mambembe que passava por Uberlândia e foi adotado pela diretora do grupo, Abigail Parecis, que o levou para São Paulo.

      O ator passou pelos palcos dos cassinos, dos grandes shows e do teatro. Trabalhou no cinema em “Futebol e Família” (1939) e “Laranja da China” (1940), e em 1943 fez seu primeiro filme pela Atlântida: “Moleque Tião”. Junto com Oscarito, participou de mais de dez chanchadas como “Carnaval no Fogo”, “Aviso aos Navegantes” e “Matar ou Correr”. Em 1942, participou de “It’s all true”, filme realizado por Orson Welles no Brasil.

      Em 1969, fez “Macunaíma”, transformando a cena de seu nascimento em um dos marcos do cinema nacional. Como ator dramático, marcou presença em vários filmes, como “Lúcio Flávio – Passageiro da Agonia” e ‘Rio, Zona Norte”. Em “Fitzcarraldo” (1982), do alemão Werner Herzog, filmado na selva do Peru, Otelo precisava fazer uma cena em inglês, mas resolveu falar espanhol. Quando o filme estreou na Alemanha, aquela foi a única cena aplaudida pelo público.

      Outros atores negros como Abdias do Nascimento, Zózimo Bulbul, Léa Garcia e Milton Gonçalves surgiram depois, no embalo de seus antecessores. Costuma-se dizer que o Brasil não tem memória. Quando o assunto são os negros, podemos falar que o país, na verdade, tem amnésia.

      Fotos de Grande Otelo:




















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