sexta-feira, 13 de abril de 2012

Casas do Brasil – Barraca Cigana




      “Casas do Brasil – Barraca Cigana” apresenta o trabalho da fotógrafa e pesquisadora Luciana Sampaio, que registrou o dia-a-dia de acampamentos dos ciganos Calon na periferia e interior de São Paulo, por meio de fotos e vídeos. Como parte da mostra, haverá uma barraca no jardim do museu, montada pelo chefe cigano Darci Soares, sua mulher Diholaila Marinho Soares, sobrinho Fabinho Soares e filha Marimar Soares, do grupo de Jaboticabal. A barraca permitirá aos visitantes vivenciar o espaço doméstico e a experiência cotidiana da moradia cigana. Com abertura no dia 9 de abril, segunda-feira, às 19h30, permanece até 3 de junho.

      “Casas do Brasil é um projeto criado pelo MCB, instituição da Secretaria do Estado da Cultura, em 2006, com o objetivo de fazer um inventário visual das casas brasileiras, celebrando a pluralidade das formas de morar país afora. Ao longo de suas edições, o projeto se dedica a documentar os vários modos de habitar, englobando suas dimensões antropológicas e sociológicas, e observando as diferentes escalas entre território, casa e objeto.

      Em outubro de 1997, no Largo 13 de Maio, bairro de Santo Amaro em São Paulo, Luciana viu pela primeira vez um grupo de ciganas lendo a sorte na rua. “Sempre ouvi falar que eram bruxas malvadas, mas, a partir daquele momento, as cores dos seus vestidos passaram a ser um dos elementos que mais me atraíam, e que me levaram a conviver por quase 15 anos com famílias de ciganos Calon, espalhados pelo Estado de São Paulo”, relata.

      Desde então, a fotógrafa documenta o modo de vida desconhecido destes brasileiros, sempre se questionando sobre como conseguiram manter, por tantos séculos, língua, vestimentas, organização familiar, habitação, meios de sobrevivência e tantos outros valores praticamente intactos. Em 2007, passou da documentação fotográfica para a produção de vídeos em que, além das atividades cotidianas, registrou também entrevistas. O trabalho resultou em um extenso arquivo documental que será, em parte, exibido na mostra.

      Os ciganos retratados na exposição são da etnia Calon, falam o dialeto Chibi, e atualmente vivem em cidades do estado de São Paulo em acampamentos espalhados por seis cidades: Jaboticabal, Pitangueiras, Guariba, Ribeirão Preto, Rio Preto e São Paulo.

      Em continuidade às discussões propostas pela mostra, no dia 3 de maio, às 19h30, será lançado um catálogo com material exclusivo sobre a exposição. Na ocasião, a fotógrafa e pesquisadora Luciana Sampaio, estará presente e irá interagir com o público, aprofundando as questões apresentadas no seu trabalho. Os textos são da antropóloga Florencia Ferrari, doutora em antropologia Social pela USP, com tese sobre ciganos Calon no Estado de São Paulo defendida em 2010. Publicou Palavra Cigana – seis contos nômades pela Cosac Naify em 2005.

      Cultura material

      Colagem é a técnica artística que melhor define a estética cigana. Se não podemos falar de uma produção de objetos – como tachos e cestos são para ciganos Rom – ou de uma iconografia própria dos Calon, certamente podemos tratar os tecidos, colchas, cortinas por eles costurados ou encomendados para as barracas como parte de uma criação estética própria. Mas há “algo” além da exuberância desses tecidos que faz dessas barracas imediatamente identificáveis como ciganas e especificamente próprias destes Calon “mineiros”. Cada elemento ou cor, por separado, não constitui um “estilo”, é apenas como resultado de um princípio aditivo de materiais, cores e texturas heterogêneas que se tem o impacto da bricolagem que configura o “estilo” calon. Uma unidade familiar define-se pelo modo como arruma e cuida de sua barraca.

      Vemos aqui como a organização do interior da barraca pode ganhar um aspecto quase sagrado, expressando, em seu apuro e asseio, os valores mais importantes da pessoa cigana.

      Cotidiano

      A vida de um acampamento é dedicada ao convívio familiar. Não há nada mais importante para os Calon que estar com seus parentes. Os espaços do pouso (como eles chamam os terrenos em que acampam) são extremamente codificados. Numa barraca só entram parentes próximos, os demais só vão se forem convidados. “Vem comer na minha barraca!” é uma frase repetida incansavelmente para um visitante, e este deve aceitar e comer fartamente, sendo a recusa considerada ofensiva. Mulheres juntam-se durante o dia nas tarefas femininas: buscar água, lenha, lavar e pendurar roupas no varal. Homens dedicam-se a pequenos afazeres, cuidam de cavalos e discutem negócios. Seu sustento vem sobretudo do rolo com mercadorias e da leitura da sorte na “rua”, fora do acampamento.

      As crianças têm acesso irrestrito a todas as barracas e espaços do acampamento. Muitas já foram à escola, mas abandonaram-na. Brincam muito e também ajudam seus pais no dia a dia da barraca, cozinhando e cuidando de irmãos mais novos. Passarinhos e cachorros são adorados, e fazem parte da paisagem do acampamento. Performances dramáticas têm lugar a todo momento acerca de assuntos os mais corriqueiros, tornando o cotidiano calon pleno de afeto.



Exposição: Casas do Brasil – Barraca Cigana
De 9 de abril a 3 de junho
Local: Museu da Casa Brasileira
Av. Brigadeiro Faria Lima, 2705
Fone: 11 3032-3727 e 3032-2564


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